quarta-feira, 30 de julho de 2008

Introdução

Não é um fenômeno recente a tentativa de captar a mente do escritor, o que o faz escrever, se há um gênio por trás disso, uma musa ou um esforço massivo. Esse assunto hoje pode ser retomado com o reaparecimento da figura do autor no campo dos estudos da literatura, contudo, longe do endeusamento anterior como o da Era Romântica[1] e sem os devidos direitos que cabiam a posição de autoria, ou seja, o autor não é mais a Voz Suprema, o Senhor, o Pai do Texto, aquele que dá um significado definitivo, aquele que possui o controle da obra e suas significações. É mais uma voz no meio de outras tantas. Essa desfragmentação dos poderes do autor pertence a uma escala maior de descentralização que vem acontecendo ao longo da modernidade, principalmente, nas últimas décadas do século XX (com os estruturalistas e a visão de hibridismo e intertextualidade da pós-modernidade).

Contudo, ainda persiste aquele ar de mistério e divindade atrelado à figura do autor e a sua composição, cujo interesse se fez em Freud no texto Escritores Criativos e Davaneio (1908). Neste ensaio sobre o escritor criativo (leia-se escritor de ficção) o psicanalista austríaco se pergunta de onde vem o material com o qual o escritor compõe a sua obra e como funcionaria esse processo e chega a comparar o escritor, esse “estranho ser”, a uma criança.

A partir das perguntas que Freud se faz e as análises de Walter Benjamin sobre a criança como o ser único capaz de restituir a experiência perdida na modernidade, este trabalho se inscreve numa busca pelo escritor atual que está inserido no meio de uma “crise de identidade”. Procuro, primeiro, mostrar que processo de centralização do sujeito e depois a sua fragmentação como experiências da modernidade e pós-modernidade e em seguida aplicar visão do estrangeiro para recuperar o que está perdido entre as rachaduras desse desmantelo. Por último, trago à tona a criança perdida em cada um como a chave de ouro do escritor.



[1] Época em que a subjetividade moderna havia sido esculpida e juntamente com a interioridade se faziam fundamentais na arte. Principalmente com a originalidade exigida pelo movimento Sturm und Drang, que mostrou a importância da autoria. O autor era um demiurgo capaz de fazer surgir da folha em branco um mundo próprio e sem uma ajuda externa de cunho divino (sem musas ou sem gênios). O autor criava por si mesmo sua obra, sendo o seu único responsável. 

Nenhum comentário: